A "Pedra da Santa", também conhecida como "Paredão da Santa", localiza-se às margens do Rio Jacaré, na divisa entre os municípios de Jacarezinho e Santo Antônio da Platina, mas inserida nos limites geográficos deste último, como parte de uma fazenda particular. Este geossítio é notável por conter calcificações inéditas, identificadas durante visitas técnicas realizadas pela equipe da Associação Turística do Norte Pioneiro do Paraná (Antunorpi), em conjunto com geólogos do Instituto Água e Terra e outros colaboradores.

João Gouveia Cezar, consultor da Antunorpi, expressou sua surpresa ao descrever o local: "Não tenho palavras para descrever aquele lugar, é surreal. O Rio Jacaré, muito bem arborizado, forma paredões com diversas formações que lembram estalactites e outras formações rochosas. Porém, há uma calcificação que eles [os geólogos] nunca tinham visto antes", afirmou em entrevista ao jornal "Portal da Cidade" de Jacarezinho.

A formação geológica incomum, possivelmente única no mundo, segundo os geólogos Gil e Tadeu do Instituto Água e Terra, tem potencial para ser reconhecida como patrimônio natural da humanidade, devido à sua estética deslumbrante e paradisíaca. Essas estruturas geológicas, por serem extremamente frágeis, necessitam de proteção e estudo por parte de universidades e instituições competentes, para que se desenvolvam métodos de exploração consciente e segura. Assim, o local poderá ser melhor aproveitado para atividades pedagógicas e turísticas, de forma organizada, uma vez que, atualmente, a visitação só é permitida mediante autorização do administrador da propriedade, sem a supervisão de guias capacitados ou itinerário definido.

A formação também é um local de antiga tradição religiosa. Pessoas costumavam peregrinar até o local para coletar água da mina, considerada milagrosa e dotada de propriedades curativas. O nome "Pedra da Santa" origina-se dessa tradição, sendo atribuído pelos antigos moradores da região, que realizavam suas preces e pedidos no local, acreditando que alcançariam a cura através da água. Há relatos de que o lugar foi visitado pelo profeta João Maria de Jesus, conhecido como "monge da Lapa".

O geólogo Gil F. Piekarz explica os aspectos geológicos da formação: "A região representa o contato entre as formações Rio do Rastro e Piramboia. Durante o desenvolvimento da Bacia do Paraná, que começou há cerca de 450 milhões de anos e se estendeu até 130 milhões de anos, com a separação continental, a área tornou-se cada vez mais continental e árida. Nos estágios finais da evolução da bacia, a região era um grande deserto, conhecido como Deserto de Botucatu, que constitui o aquífero Guarani. Quando os continentes América do Sul e África se separaram, essa separação ocorreu em nossa região, que se assemelhava a um deserto, como se o Saara tivesse sido dividido, com uma parte na África e outra aqui na América do Sul. Durante essa separação, houve um grande extravasamento de magma basáltico. Nos estágios finais da evolução da Bacia do Paraná, antes da separação dos continentes, a região experimentou um ambiente árido que evoluiu a partir de um ambiente ainda úmido na Formação Teresina. Com o passar de milhões de anos, a região foi se tornando cada vez mais árida, passando por ambientes fluviais e desérticos até se tornar completamente seca, semelhante ao Saara. Durante a transição de um clima semiárido para árido, grandes lagos salinos secaram, depositando materiais ricos em sal e carbonato. No ponto onde o rio faz a curva, vemos o contato entre as formações Rio do Rastro e Piramboia, que marca o início do deserto. O Piramboia é composto por arenitos, representando um deserto de base úmida, diferente do Saara. Nesse local específico, há um afloramento que chamamos de arenito carbonático. No clima atual, ele se dissolve de maneira semelhante ao calcário, formando estalactites e estalagmites. É um ponto belíssimo, com estruturas cársticas muito bonitas. Nunca havia visto uma formação assim, e Tadeu, que já explorou muito a região, também afirmou que é a primeira vez que vê algo desse tipo."